terça-feira, abril 15, 2008

Peixe louvando sua colher falida


Na minha pilhagem,
No meu contar de conchas,
Descobri meu prazer escondido,
Algo que era meu profano,
Minha mais sensual vergonha

Na realidade, minhas memórias foram domesticadas
E passei então a meramente existir
Empurrando com as palmas os meus ensaios do que poderiam ter sido minhas vidas

A minha menor e mais leve apreensão de fôlego
Foi, além da captura de todos os pecados de meus irmãos,
A briga estabelecida entre meu anseio de desistir e as derrotas do mundo

Vaguei então pelos porões do meu país,
Encabulado pelas minhas próprias faces
À beira de perecer pela falta de logos,
Uma vez que, fui conduzido pela minha alma a caminhar rumo ao sétimo círculo.

Incontestavelmente eu**

quinta-feira, abril 03, 2008

Ponderar os traços


Pensar em todas as coisas transitórias, em todas as coisas que não são e tudo aquilo que reside entre um e outro já virou minha rotina. Antes era tudo calmo, sem dúvidas. Vivia em uma penumbra confortável e ingênua, que era capaz de me apaziguar qualquer inquietação – que na verdade não passava de lapsos pequenos – que me tomasse algumas horas do dia.
Passei a carregar um peso enorme nas costas, mas afinal, quem não carrega? Não posso ficar aqui me lamentando por todas as dores que tenho, por todos os murros que tomo. A vida é assim, a minha e a tua, a essência da vida é essa: nos atingir na cara. Apanharmos todos os dias torna a vida mais inconstante, mais suportável. Se quer é necessário ressaltar que é justamente com esses tabefes que aprendemos, que compreendemos um pouco mais os motivos fluidos de viver. Porém, o que eu acredito ser relevante, é justamente como nos distanciamos cada vez mais de uma resposta, qualquer que seja ela.
Muitos dos meus medos residem em outros que não eu. É prepotência demais achar que apenas eu carrego mártires, que o meu labor é o mais penoso, que a minha trajetória é a mais árdua. Tudo o que está em mim pode ser exprimido fora de mim, mas ainda sim, além de ser muito complicado fazer essa ponte entre o que há dentro de mim e o mundo fora, é incrivelmente assustadora a idéia de permitir os outros a descubram as suas semelhanças em mim. Somos todos únicos, porém é surpreendente como todos estamos ligados por algo transcendente a nós. Não me refiro à semelhança de sermos todos humanos, apensar de alguns se quer demonstrarem tal característica, mas nossas mentes estão todas conectadas por suas idéias e sentimentos.
Encontrar semelhanças em outro, abrigar-nos às sombras de outro pode sim ter equivalência ao sentimento de calmaria, este é porém o mesmo que temos ao vivermos de olhos cerrados para o mundo. Não há como viver sem questionar. É da natureza humana perguntar. O importante porém – o mais difícil de ser compreendido – são as perguntas e não as suas respostas. É consciente ter em mãos que muitos dos questionamentos jamais serão entregues às luzes de uma aurora mais promissora, então para que pecar, insistir em querer saber tudo? Não sabemos por que estamos aqui, não sabemos de onde viemos ou para onde vamos, não sabemos por que amamos ou por que sentimos medo, apenas vivemos. Apenas vivamos!

Incontestavelmente eu**

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Crônica do Príncipe Encantado


Você, mulher independente, com uma carreira de sucesso, com um lindo apartamento com uma vista ainda mais fabulosa do que o seu guarda-roupa. Você pode ser chamada de mulher que “have it all”. Existe um porém, que é capaz de tirar o seu sono: você está solteira. Os seus questionamentos são capazes até de concluir que você não é bonita o suficiente, que talvez devesse ser mais submissa, que você deveria se dedicar menos ao trabalho que tanto ama.
Os homens são capazes sim de fazer questionarmos sobre tudo aquilo que somos confiantes e temos como certezas absolutas em nossas vidas. Alguns meses sem um namorado pode ser algo incrivelmente desesperador para mulheres que estão na casa dos 30 anos. As buscas vazias em novos bares da cidade, exposições de arte ou até mesmo amigos dos amigos passam a ser fonte alternativa mais recorrente para muitas mulheres. Tudo para tentar encontrar algum homem que possa ser um pretendente.
Porém, o que você menos esperava aconteceu. Você, caminhando bela e lindamente pela Oscar Freire com sua bolsa Chanel, seus sapatos Manolo Blahnik e seu óculos Christian Dior tropeça em algum imbecil que não olha por onde anda. Você praticamente é atirada ao chão e quando finalmente consegue se recompor para dar o maior esporro no infeliz, você vê o rosto angelical do rapaz. Ele é lindo, tudo aquilo que você imaginou ser a perfeição e além de tudo, o seu sorriso de “me perdoe” é irresistível demais para você recusar suas desculpas, ou um convite para um café.
Após algumas semanas e alguns drinques, vocês percebem que são perfeitos juntos. As risadas são presentes, assim como os olhares cheios de desejo também. Não demora muito para os dois estarem juntos em todos os lugares mais badalados, festas e é claro, no seu apartamento também. Ele cozinha para você, te mima, te trata super bem e é um amor com as suas amigas. Ele não é fofinho?
Sua vida está então completa: trabalho, amigos e agora, o coração também está apaziguado. Tudo está um mar de rosas, até mesmo quando o seu chefe briga (e feio) com você, você não vê problema nisso, ele está apenas nervoso com toda a responsabilidade, você entende o lado dele. Até que, quando você está se preparando para sair com o bofe, ele toca a campainha e você diz para ele subir. Ele a observa enquanto você coloca os brincos e penteia os cabelos, até que ele solta a bomba: “Querida... acho que talvez seja melhor darmos um tempo.”. Você vira-se para ele com uma cara que se quer sabia que podia fazer e entra em colapso nervoso. Você chora, se esperneia, abraça-o e joga coisas contra ele. No final de horas de conversa e garrafas de vinho, você está calma o suficiente (apenas o suficiente) para entender os motivos dele, afinal, é essencial que ele viaje para Madri para expor suas peças e buscar algum renome. Vocês se abraçam e você assiste pela sua janela o seu príncipe encantado (e seu potencial marido) ir embora e te abandonar.
Por mais triste que pareça, essa história irá se repetir várias e várias vezes com muitas mulheres. Todas nós temos uma vez na vida um lindo homem, a perfeição masculina se quiser chamá-lo, que nos faz feliz durante alguns poucos meses e depois nos abandona. E então, o problema é com nós mesmas ou com as beldades? Seria mais sensato dizer que o problema é com o deus grego, afinal, é ele que fica mudando de mulher, e não nós, mulheres lindas e bem-sucedidas, belos partidos. Só que o porém da história é: o problema não é de ninguém. Esses poucos homens transitam entre relações para que todas as mulheres conheçam esse tipo pelo menos uma vez na vida, e cabe a nós deixarmos eles irem para dar alegria a outras moças assim como você a viveu.
É inevitável então, acharmos que estamos perdidas e que nunca mais teremos uma relação como essa, e sinto em dizer, mas são poucas as sortudas que conhecem essa alegria mais de uma vez na vida. Então, nos enchemos de esperança para que possamos seguir e não sermos demitidas do nosso trabalho fabuloso por causa da depressão leve que adquirimos no final de cada relação.
Depois de alguma reflexão, cheguei à conclusão de que esses príncipes são andarilhos que dão alguma alegria para mulheres levemente desesperadas, e por isso não os condeno, muito menos aquele que me deixou semana passada. Nos resta então, apenas os meros mortais para serem nossos maridos, pais dos nossos filhos. Mas eu chego então, em uma encruzilhada onde sou obrigada a dizer que, esses humanos, justamente por serem humanos, são repletos de defeitos.
É comum escutarmos que devemos amar as pessoas pelos seus defeitos, e não pelas suas qualidades, mas não dá para amar um homem porque ele é infiel! “Olha só que fofinho! Ele me traiu mais uma vez! Ai, eu amo tanto ele por isso...”. De acordo com a minha pesquisa mais recente (escutar sem querer a conversa de algumas pessoas que falam alto demais e que estão perto demais), é quase unânime a porcentagem de maridos que mantém amantes. Pelo visto então, é a nossa sina sermos traídas por homens que nem são assim tão heróicos. Os homens que me perdoem, mas é verdade que vocês são, em sua maioria, condicionados a trair e serem infiéis (arrisco a dizer que são fiéis apenas a eles próprios). Não estou aqui para levantar nenhuma bandeira pró-feminismo, mas acho que vale dizer para todas as mulheres para se valorizarem, para não se humilharem, para serem mais fiéis a si próprias. Vale ainda dizer que existem sim homens honestos nesse mundo (sim, no nosso mundo), e que talvez sejam eles os que nos dêem esperança para seguirmos em frente e acreditar ainda no amor em relações monogâmicas.
Enquanto isso, cabe a você mulher linda e poderosa, esperar por algum outro encontrão ou então correr atrás da felicidade, mas com cuidado por favor, ninguém quer estragar nossos lindíssimos Blahniks!
Incontestavelmente eu**

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Irreparável


Mas é simples assim, é raro assim algo como isso acontecer. Não posso deixar de evidenciar que amo mais do que qualquer coisa a minha própria dignidade, a minha alma. Vale ressaltar que não deixo de fora o meu coração, que não descarto e ignoro todos os meus instintos.
Talvez transitar entre as minhas duas personalidades, cambalear entre o meu lado mau e o bom de ser, cause-me assim tanta dor, mas assim tanta satisfação no final de tudo. O que me dilacera por dentro, o que me corrói por entre as vísceras é meramente o que me faz continuar: a cabeça empalhada na minha parede, a urgir de dor, a gritar por um sopro de ar. Enquanto isso, assisto o meu prêmio na minha parede.
Essa satisfação é o que completa o meu lado humanitário e gentil. Agora, quando estou só com minhas presas, é quando se pode facilmente ver o que realmente sou.
Sou assim essa besta que não preza por nada, que é cega e que enxerga apenas no escuro, no breu, no fel. Rezar não me ajuda mais, não me consola. Sou o único irreparável da Terra. Sou o anjo caído. Sou o demônio de cada um.
Quando me foi rejeitado o mais belo florescer das auroras e as pétalas mais leves dos horizontes, não fui chorar mágoas nem arrependimentos. Fui logo contar as minhas vitórias, que passariam então a ser sobre as suas conquistas. A cada dia que passa, você morre um pouquinho mais, e eu cresço cada vez mais soberbo e egocêntrico. Não me julga mal ao pensar que sou o apocalipse do mundo, pois na verdade, sou a sua salvação, eu sou a sua prece por vida.
Nasce de mim o raio de sol que ilumina você, que ilumina essa terra que há Deus que olhar. Mora em mim as angústias, os medos, as maiores agonias que qualquer um já teve. Eu sou o resumo de todo o Homem, sou a mais bela e perfeita forma de ser. Eu sou a tua morte, sou o teu fim. Deita cá no meu colo e deixa eu te ninar.
Quando você largar a luta, quando cair sobre os joelhos, os pulsos e cortar os dedos com as suas próprias adagas, eu vou cuidar de você. Vou estancar os sangramentos, vou fazer a dor passar. Você vai chorar no meu colo, implorar por piedade e lá vou eu mais uma vez te consumir os pensamentos. Deixa-me chegar mais perto só para te sussurrar todos os projéteis que já me cortaram a testa. Você vai chorar pela minha dor, mas não vai ser o bastante, nunca é.



Incontestavelmente eu**

domingo, outubro 21, 2007

Chantagear o mundo


O meu perecer não faz mais parte da minha alma
Não vou mais me permitir almejar qualquer que seja o sonho
Dói demais vê-los todos quebrar e cair

Meus sonhos são meus versos

Não suporto mais vê-los largados nas sarjetas de tuas casas
Machuca saber que nunca serão sonhados por ninguém mais que eu

Meus sonhos não têm culpa de serem meus
Não tiveram escolha senão serem de mim
Por favor, não os menospreze apenas porque são simplórios, porque são poucos

Quero apenas pedir a tua atenção para os meus dedos,
Para poder ver como são nas suas pontas onde habitam as minhas palavras
Para compreender como as idéias se posicionam na minha mente

Não os julgue por serem meus,
Não me julgue pelos meus versos

Pisar sem calçados na neve, e andar sob as raízes invertidas de uma árvore
Caminhar assim é viver em mim todos os dias
Escutar as minhas palavras é estar comigo, é ser eu

Não quero que leias o que sou,
Quero só que não morra em mim o que sempre sonhei, o que sempre imaginei
Não quero ter que chorar as misérias do mundo, quero apenas fazer as minhas

Correr não é mais a solução, tornou-se o problema

Brincar sempre de negar é sempre mais fácil do que dizer “sim”
E é justamente o meu negar que toma forma e ocupa a sala inteira, a cidade inteira, o mundo inteiro,
O corpo inteiro

Quero que as minhas palavras cresçam o suficiente para me amare e me abraçarem um dia
Quero que os meus sonhos sejam grandes o suficiente para cobrirem as minhas infelicidades e transformá-las em um manto qualquer

Preciso parar de querer, preciso passar a fazer

Nunca soube rimar meus sonhos, mas sempre soube sonhar
Minha mãe querida jamais me ensinou a brincar, a ser, a amar
Já meu pai... meu pai também nunca me ensinou a viver

Talvez precise pensar mais sobre as minhas frases,
Talvez deva me dedicar mais a elas, a todas elas
Quem sabe assim serão melhores aceitas por ti

Teus restos não são melhores do que nada que já foi meu

Minhas mãos já não andam sozinhas,
Minhas primaveras não são mais as mesmas,
Muito menos eu sou o mesmo

Quero apenas que meus cabelos fiquem brancos,
Que meus fios se soltem de minha cabeça,
Que eles dancem por todas as cidades,
Que beijem todos os lábios daqueles que sabem o que é sonhar

Vou lançar agora a minha sorte ao vento
Vou fazer com que ele eternize meus sonhos,
Com que meus versos sejam ditos por mais alguém,
Que sejam amados por outro assim como eu os amei

Eles serão um dia o marco de toda a História
Não deprecie minha capacidade,
Minhas idéias são muito maiores do que as tuas.


Incontestavelmente eu**

Dissonar


Hoje aprendi sobre a palavra carne
Aprendi que se pode rimá-la com sono
E a partir de então, permite-me rimá-la com o mundo inteiro

Rimei com a primavera, com as ruas e com os quartos
Usei as alianças dos casais como suporte dos primeiros versos
E terminei-os com todo o esmero de todos os livros já escritos

Foi quando cheguei até você,
Por algum motivo maior, a rima parou, estancou e não quis mais andar
A minha carne rimou com tudo e todos, mas a você ela não desejou

Não compreendi direito o porquê, e então insisti em fazer a rima dar certo
Mas nada aconteceu, ficou ali estático o seu nome perto da minha carne

Foi daí que terminei com esses pobres versos,
Foi quando tentei fazer você ficar perto de mim

São assim bem simples, assim como é minha afeição por você
Não se explica com fundamentalismos filosóficos, mas sim pelo tato
É tangível ao toque o quanto quero a você

Acho eu, que cansei de tentar fazer as coisas se encaixarem
Se fosse para a rima dar certo,
Ela já estaria a me esperar para ser feita

Voltei para os meus miseráveis poemas
Para me deparar com todos os meus mais belos versos,
Com o seu verso jogado ao léu do meu calor

E depois de caminhar por todas as vias sem fim da minha insanidade
Cabe a ninguém mais do que eu deixar as palavras como estão e não mais almejar coisa alguma

Vou deixar para os meus outros poemas terminarem o que eu comecei
Assim tão invariavelmente sem pensar, sem prezar, sem amar.


Incontestavelmente eu**

segunda-feira, agosto 13, 2007

Beijo


Foi uma convivência meramente insuportável,
Que não mais era predestinada
Enquanto eu rumava para o meu teto de madeira,
Deixava para trás todas as roupas contigo

Um dia eu sei que foi certo
E amanhã saberei do leite que chega à porta
Mas cabe ao presente me sentar no colo, para niná-lo sem me esmorecer
Daí então caminhei até um pingüim que veja só, estava sentado bem do teu lado!

As palavras já não fluíam com o vento,
E me partia cada vez mais ver todos os bules do mundo, todas as chaleiras a gritarem fumaças pelo [ar

Nas árvores então passei a habitar,
Não tinha mais medo de altura e não tinha medo de cair
Todos os receios que tinha perto de ti, sumiram
E o dia mais revelador de todos foi quando cai pela primeira vez

Deixava-te para trás e senti a terra embaixo dos meus pés,
A matéria orgânica era o compasso de uma triunfal retirada
Eu sou tudo e todos, sem hesitação ou inquietações
Passei a transbordar por todas as matérias

Foi no dia que quebrei o céu, que criei rachaduras nas nuvens
Que tu imploraste por mais um cheiro, mais um sabor do real medo de viver
Mas daí meu amigo, já estávamos longe demais de qualquer beijo
Foram então em sete dias que fugi, cai, deitei e morri.



Incontestavelmente eu**

domingo, julho 22, 2007

Roguei ser


Não suporto mais escutar um qualquer falar de suas fúteis inquietações, como é renegado ou excluído, como é incompreendido e reprimido. Canso eu de ouvir quaisquer que sejam essas reclamações poucas e inúteis. Passo a transcender entre as súplicas dos mais marginais e as revoltas gritadas dos menos afortunados.
É então entre todas as vias que nos correm que me acho enfim, pertencente ao grupo ignóbil dos seres: eu agora, reclamo da vida. Sou um sofredor em potencial que atingiu o seu auge do ridículo, passei a contestar como as pessoas a minha volta me tratam e até mesmo como elas agem entre si e por si próprias.
O que segue então, é algo assim volátil. Não é mais comum ao toque eu ser a vítima. Nunca precisei de ajuda ou se quer hesitei em reivindicar uma interpretação errônea em relação a mim. Mas hoje cabe, hoje eu visto um burlesco ato de viver em constante incerteza.
Percorrer entre as relvas mais murchas, ou por colinas espelhadas é hoje um mero ato transitório. Por mais que eu seja por fim, algo leviano, eu deixei de ser um palhaço qualquer para ser mais um bobo frívolo e mundano. Posso urrar as minhas dúvidas e não mais serei reprimido por não precisar de análise ou ajuda. Sou hoje, um borrão qualquer em meio a uma multidão apressada e sem escrúpulos. Vivo livre em uma sociedade bruta e uniforme.


Incontestavelmente eu**

segunda-feira, julho 16, 2007

Vala comum


A minha e a sua vida são assim como guerras. São guerras individuais e distintas umas das outras, cada qual com seus campos de batalha e armas. Mas há algo então, em comum que nos liga a uma vontade maior: temos todos os mesmos inimigos. Por mais que talvez o meu se disfarce assim e o seu daquele outro jeito, temos todos o tempo contra nós. Diferencia-se então, a forma como batalhamos contra esses adversários imaginários, mas ainda sim, por mais fictícios que possa dizer sê-los, são sempre os mais reais, os que mais te alcançam.
Garanto uma vida de dor e muito sofrimento. Cada um de nós enfrenta então a guerra de uma maneira. Posso eu ter uma atitude mais agressiva, e você mais ofensiva. Ainda sim, o desfecho de cada batalha é imensamente diferente, e cada um desses finais é que vai traçar a trajetória que iremos seguir. No fim da guerra, todas as nossas experiências e vivências é que irão nos conduzir na direção certa. O que é correto para mim pode ser imoral para você.
No final das contas, nada disso importa. Por mais que façamos tudo, pois nos foi concebido tal, não importa porque vamos todos terminar da mesma forma. Vamos todos terminar em alguma vala comum, quem sabe até eu e você no mesmo buraco. Não há então porque relutar em querer existir, em querer vencer. Nunca ganhamos essa guerra e nem nunca vamos ganhar. Há quem ainda queira ser um pouco mais otimista do que isso, e devo congratular todos esses pobres iludidos. Existe sim talvez certa glória em morrer lutando, mas existe ainda sim um certo toque do que é torpe na sua mais pura forma. Não existem premiações para os mais esforçados. Não há motivos para acreditar que seremos transformados em heróis, pois não há heróis.
Resta-nos porém, ser imortalizados em nossas formas. Buscar uma forma de se manter e conservar para que os próximos soldados tenham algo para se apoiar. Sempre fora assim conosco, sempre tivemos uma muleta ou tipóia para nos socorrer quando quer que fosse a perda de um membro. Todos já perdemos uma perna ou um braço, e se ainda não aconteceu a um jovem é pois ainda está por vir o dia mais miserável de sua vida. Brigamos para não perder, mesmo tendo consciência do que está por vir. Ainda sim, não devemos perder a mais bela forma humana: a de ter fé.



Incontestavelmente eu**

Relevante ser


Veio o vento sem mais deixar de urrar
Lá por volta das redondezas de não mais fazer
Onde tudo eram flores, sem fugir assim do romântico

Minhas pernas me levaram para o teu lugar onde não mais eras
Plantado então, estava perante o mesmo sol que faiscou três chuvas atrás
Era o encontro do pesado e do leve

Foi em um abismo qualquer que gritava o teu nome,
Sem hesitar, que me deixei rogar todos os arrependimentos de não dizer
Nada que sempre era o que não deixaste de ser tu

Mais um perdido com um rumo no reino verde do teu ser
Com o meu conglomerado de raiva pendular
Passei a rabiscar louças em um vasto pingo d’água

Foram mais de três relatos os meus queimados
Sem qualquer cuidado, fui aniquilado
Passando então, a haver no real medo de existir.



Incontestavelmente eu**

segunda-feira, julho 09, 2007

Não mais rodar


Mais nada vai me fazer mudar, muito menos a ti.
Já deixei de saber, já me deixei ignorar todas as poucas sentenças.
Tudo que era vago, passou a ser um vazio muito cheio.
Muitos dos anos que já se foram se transformaram em tudo aquilo que eu vou um dia ser.
Com o vento ao meu lado, com todas as folhas como aliadas, não havia mais nada a temer.

Quem sabe se de fato deveria eu mudar.
Abdiquei de fazer nascer os gestos mais grotescos da sua existência.
Não há mais uma linha contínua que possa juntar as três voltas.
Passei a divagar pelos campos de não mais querer.
Os seus gritos surdos e os meus silêncios de conformismo foram os que mais puderam me atrelar ao que era então transitório.

A caminhada dos malditos, dos não menos afortunados do que tu, foi uma das mais ilustres fascinações que fora omitida e escondida pelas terras.
Era incrivelmente vergonhoso não ser mais aquilo, mas quando passei a viver um novo tu, era mais do que simples dizer que era falho.
Colou então, todos os desenhos do não mais viver sem haver.



Incontestavelmente eu**

quarta-feira, julho 04, 2007

Mais uma liga rompida


E quando foi que deixei de ser? Não me lembro de ter dito que não era mais. Talvez tenha sido um dia desses que você tenha confundido o meu “sim” com um outro “não” qualquer, mas tenho certeza de que sempre me deixei ser.
Chega, não são mais necessárias quais quer tipo de delongas. Deve-se agora, subir as cortinas. Não há mais nada clichê do que isso, mas, fazer o quê? Quando começarem as luzes a acenderem, e os sons a tocarem, todos devem levantar. Sem exceção alguma, isso sem dúvida.
Foi em um dia branco... Lembro-me bem da expressão na sua cara. Era meio seca, mas eu podia sentir, podia tocar sem usar as mãos, podia ver toda a sua alma. Nossa, preciso parar de usar clichês, posso me tornar uma pessoa qualquer dessa maneira.
Quando vocês tornarem as costas para mim, por favor, não se esqueçam de todo o trabalho que pus aqui. Foi difícil demais largar todos os hábitos, todas as folhas e os vestidos. Talvez seja propício que o piano aumente a intensidade da música agora, mas por favor senhor pianista, que isso fique a seu critério.
É hora de deixar o seu lado. O barulho do trem vem vindo, numa constante muito irritante e eu não suporto mais os fios a explodirem, também de forma invariável. Tudo me irrita, inclusive você. Por mais que repare nos vermelhos veios na sua face, eu não mais aturo essa minha transição. Deveriam ter me avisado que seria assim doloroso.
E agora, peço que caminhem lentamente em direção às portas. Peço desculpas pela vida curta que tive, pela mera apresentação, mas foi assim que me ocorreu. Tudo muito rápido, nada que tenha valido a pena. Ah! E os trocados, os poucos trocados que talvez queiram deixar, entreguem a um apaixonado qualquer... quem sabe possa ser eu o mendigo.



Incontestavelmente eu**

segunda-feira, julho 02, 2007

Choque redondo


Essa não vai ser mais uma estória de amor, ou igual a qualquer outra que já te contaram sobre os crimes de corruptos. Muitas das coisas que se ouvem por aí têm algum tipo de fundo insano. É incrível o número de casos de pessoas neuróticas, que beiram a loucura completa e sem volta por causa do stress da cidade, dos problemas que os tempos modernos trouxeram. Mas e quando se trata de algum tipo de comportamento psicótico infantil?
Eu não suportava, um minuto se quer, daquela ladainha toda sobre como eu deveria me manter alerta sobre qualquer tipo de possível ameaça de maus intencionados. “Podem tentar te roubar, sabia? Eu sei que você não tem muito dinheiro querido, mas podem tentar pegar o teu lanche!” e por mais que eu soubesse que minha mãe queria apenas me proteger, todas essas atenções me sufocavam. Até o dia que parou de ser algo lento, um movimento gradativo que me soterrava. Foi algo assim meio estático por um instante, e depois foi como uma avalanche. Eu não mais conseguia me conter e todos os meus gritos, os meus urros vieram para fora de mim, como se estivesse possuído. O pior de tudo, foi que de fato muitos acreditaram nessa suposição. Minha avó sempre fora muito religiosa e mandara o padre da cidade me benzer. A cena foi ridícula, pra não dizer patética e lamentável. Sentia pena dos meus parentes, deles todos que prezavam por mim e acreditavam que de fato poderiam me beneficiar de alguma forma. Ninguém nunca notou como eu era um caso perdido.
Machucou demais ver as folhas das árvores murcharem, assim como as flores perderam os seus perfumes. Mais do que qualquer coisa, a perda maior da minha infância foi quando o meu passarinho morreu de frio. Meu pai o esqueceu do lado de fora de casa antes de irmos para a festa de natal na casa da vovó e quando voltamos, ele estava duro, caído no fundo da gaiola. Nunca mais perdoei o meu pai por isso, foi algo assim inimaginável o que ele tinha feito. Homicídio culposo, sem vias de fugir da sentença. Acho que foi nesse dia que passei a contar a vida de forma regressiva. Foi nessa época que planejei o meu primeiro crime. O cachorro do vizinho era um bem pequeno e muito barulhento, que sempre me incomodava o dia inteiro. Não importava o que acontecesse na rua, ele sempre latia, dia e noite, sem parar. Correção, ele parou sim e foi de noite. Estava uma brisa fresca e não havia uma nuvem se quer no céu, conseguia ver todas as estrelas e melhor ainda via o cachorro a dormir em um canto, perto do pé de uma árvore que dividia o meu jardim da casa do vizinho. Eu conseguia acompanhar a respiração do diabinho e meus passos começaram a pulsar na mesma freqüência que ele. Tinha pegado um garfo antes na cozinha, mas achei que era meio impróprio e repulsivo matar um cachorro com um garfo. Se fosse um daqueles de churrasco, quem sabe... mas o meu era um comum, com pontas redondas que não fariam o menor dano, além claro, de muito barulho. Peguei uma faca que estava na pia, foi difícil de a alcançar, mas consegui. Com os meus 5 anos, eu já tinha as minhas artimanhas para fazer quase tudo o que me era negado. Enfim, a faca era pontuda, prateada, e gritava meu nome. Já faziam noites que a escutava gritar, mas achava que era apenas o vento ou o inverno. Mas tudo bem, porque todo o esforço fez por valer a pena. Eu não me lembro de muita coisa, mas tenho certeza que o cachorro soltou apenas um pequeno grito. Acho que o escasso número de pedidos de socorro do canino deve-se ao fato de eu ter começado pela boca. Enfiei-lhe a faca inteira goela abaixo, e remexi lá dentro, como quem busca raspar o fundo de um pote de doces. Como era muito pequenino, não houve muito sangue, mas a quantidade me assustou na época.
Hoje, quase mais nada me assusta. Quando vejo a televisão, os noticiários cheios de chacinas e impiedosas decisões dos políticos que não se importam com nada mais do que o seu capital, não sinto qualquer tipo de comoção. Não desperta em mim nenhum tipo de sentimento solidário pelas pessoas que perderam seus parentes em mais um ataque terrorista, ou então por aqueles desafortunados que não têm o que comer, muito menos onde caírem mortos. Acredito eu, mero mortal, que todo esse meu jeito insensível de ser seja apenas resultado de uma inércia, que começou anos atrás. Não sou pessoa de culpar os pais ou os professores por nada, por mais que acredite que eles têm sim grande parte da culpa por meu estado deplorável em que me encontro hoje. Mas tenho colhões suficientes para dizer que a culpa é inteira minha, fui eu quem me arrastei até esse lixo, esse buraco imundo sem fundo ou saída.
Não sei porquê tudo é branco. Gosto muito mais do vermelho, e acredito que todos aqui preferem também. Não sou o único maníaco psicopata que mora aqui, mas talvez seja o único que tenha vindo parar aqui por vontade própria. Dou liberdade para você me crucificar, ou quem sabe até mesmo aplaudir, por ter me voluntariado em uma clínica mental, mas acho que era mesmo coisa do destino eu terminar os meus dias por aqui. Não que eu acredite em destino ou qualquer coisa que esteja ligada aos astros e qualquer outro tipo de previsão melosa de pessoas ainda mais grudentas e chatas. A minha brilhante conclusão era que seria menos doloroso passar o resto da vida em um lugar onde existam outros débeis assim como eu, do que em uma prisão maldita em que os indivíduos se acham assim tão superiores por terem assaltado uma lojinha qualquer ou terem baleado um policial. Eu imaginava ser superior por decidir escolher a mais fácil das opções: escapar da pena de morte e viver em um hospício sem maiores implicações. Como eu já mencionei, eu era débil.
Não agüentei mais do que 3 meses. A casa era simplesmente insuportável e não havia janelas. Não conseguia ver o inverno ou verão. Perdi todas as estrelas e achei as nuvens que, a princípio deveriam estar nos céus, pairando no meu quarto e em seguida, em todas as partes que eram brancas. Eu acho que foram três meses, mas quem sabe se foi menos. Só sei que foi bem rápido que tomei providências para arranjar uma faca. Todas as pontas de qualquer coisa eram redondas, era como se o lugar fosse feito especialmente para um bebê, para que não se machucasse e estivesse livre dos perigos do mundo. É muito bonito como quando somos pequenos o mundo se resume apenas à nossa casa, e todas as pessoas são papai e mamãe. Pena que tive que me desprender rápido demais da minha pequena população doméstica. Foi também em uma noite que esfaqueei meu pai e minha mãe. Os dois estavam dormindo calmante e eu usava duas facas, foi algo meio que assim, simultâneo. Lembro-me de uma expressão levemente horrorizada de minha mãe, que se debatia e relutava contra o seu pequenino filhote. Meu pai não, carregava uma expressão de conformismo, como se já previsse que fosse acontecer isso. Fiquei com muita raiva quando vi o rosto de papai assim tão resignado.
Sempre tive uma atração por facas, sempre as achei mais eficientes e mais magistrais do que armas de fogo. Onde estaria o prazer de usar um revólver? Só sei eu que queria que minha partida fosse a mais bela e pura de todas. Quem sabe se certa soberba me invadiu, mas sei eu que foi algo assim muito libertador como a fiz. Cheguei a ver um pouco do meu sangue jorrar no chão que era branco, tão branco. Senti um leve perfume doce, de margaridas quem sabe. Alguns gritos mais eu escutei no fundo, mas depois disso, não me lembro de muito mais. Chegou a doer, porém muito pouco, a dor foi logo fulminada por um prazer intenso, por uma libertação suprema e completa. A última coisa que senti, que vi ou escutei, foi um pequeno cão todo vermelho. Quem sabe se na verdade, tudo era apenas uma pequena representação de uma vontade maior de terminar o que nunca deveria ter começado.



>> para o frango xadrez... ops! quero dizer, para o Levin... hehehe


Incontestavelmente eu**

domingo, julho 01, 2007

Me distraio


Sou a inveja do vento
Mas deixei de me distrair
Com os rotos invernos
Há mais de setenta sinos

Naquela cruz, largada sobre os teus pés
Abdiquei eu de fazer histórias,
Dos mais belos vestidos de tule
Sem jamais recusar todos os sete pecados

Todo desconforto dos poemas,
Todas as tuas bocas,
Tudo o que sempre foi o meu caos
Se transformou nos nossos anseios mais toscos

Foi longe de hoje, que tu recusaste
Minha pequenina porção de angelicais toques
Foram de forma descontínua que permiti levar-me
Para o meio da tua soberba

Vendi os meus sapatos,
Salguei os meus olhos,
Acarinhei as lápides,
Brinquei enfim de ser besta

Deixei de ter mãos,
Minha grama não mais gorjeava
Ou se quer minha identidade tinha cor,
Rocei pela última vez nas janelas inconstantes de minha vala

A mais bela de todas as pegadas
Foi então refeita sem esmero algum
Mas sei eu que feri todos os teus vales
Sem tu afagar os meus já velhos urros.


>> para o Dudu... vulgo Orozco, hehehe


Incontestavelmente eu**

domingo, junho 03, 2007

Constância do transitório


Beije a minha seda
E case com a sua audácia,
Leve consigo o meu ardor
E esqueça aqui as ruas molhadas

Dance nos bares em que morei
E deixe-me laçar os meus dedos,
Costure os seus risos
E destrua as minhas verdades

Seja o que eu sempre fui
E brinque de nunca estar,
Goze das minhas tragédias
E deixe estar as suas mentiras

Vaze como o vinho das uvas
E ame as meninas de puras luxúrias,
Tome posse dos palácios de penas
E ofegue sobre os vidros daquela outra janela

Rosne os seus anseios
E toque os pianos de pretas caudas,
Finja ser o que eu sempre quis
E abandone as coisas como estão.



Incontestavelmente eu**