domingo, julho 22, 2007

Roguei ser


Não suporto mais escutar um qualquer falar de suas fúteis inquietações, como é renegado ou excluído, como é incompreendido e reprimido. Canso eu de ouvir quaisquer que sejam essas reclamações poucas e inúteis. Passo a transcender entre as súplicas dos mais marginais e as revoltas gritadas dos menos afortunados.
É então entre todas as vias que nos correm que me acho enfim, pertencente ao grupo ignóbil dos seres: eu agora, reclamo da vida. Sou um sofredor em potencial que atingiu o seu auge do ridículo, passei a contestar como as pessoas a minha volta me tratam e até mesmo como elas agem entre si e por si próprias.
O que segue então, é algo assim volátil. Não é mais comum ao toque eu ser a vítima. Nunca precisei de ajuda ou se quer hesitei em reivindicar uma interpretação errônea em relação a mim. Mas hoje cabe, hoje eu visto um burlesco ato de viver em constante incerteza.
Percorrer entre as relvas mais murchas, ou por colinas espelhadas é hoje um mero ato transitório. Por mais que eu seja por fim, algo leviano, eu deixei de ser um palhaço qualquer para ser mais um bobo frívolo e mundano. Posso urrar as minhas dúvidas e não mais serei reprimido por não precisar de análise ou ajuda. Sou hoje, um borrão qualquer em meio a uma multidão apressada e sem escrúpulos. Vivo livre em uma sociedade bruta e uniforme.


Incontestavelmente eu**

segunda-feira, julho 16, 2007

Vala comum


A minha e a sua vida são assim como guerras. São guerras individuais e distintas umas das outras, cada qual com seus campos de batalha e armas. Mas há algo então, em comum que nos liga a uma vontade maior: temos todos os mesmos inimigos. Por mais que talvez o meu se disfarce assim e o seu daquele outro jeito, temos todos o tempo contra nós. Diferencia-se então, a forma como batalhamos contra esses adversários imaginários, mas ainda sim, por mais fictícios que possa dizer sê-los, são sempre os mais reais, os que mais te alcançam.
Garanto uma vida de dor e muito sofrimento. Cada um de nós enfrenta então a guerra de uma maneira. Posso eu ter uma atitude mais agressiva, e você mais ofensiva. Ainda sim, o desfecho de cada batalha é imensamente diferente, e cada um desses finais é que vai traçar a trajetória que iremos seguir. No fim da guerra, todas as nossas experiências e vivências é que irão nos conduzir na direção certa. O que é correto para mim pode ser imoral para você.
No final das contas, nada disso importa. Por mais que façamos tudo, pois nos foi concebido tal, não importa porque vamos todos terminar da mesma forma. Vamos todos terminar em alguma vala comum, quem sabe até eu e você no mesmo buraco. Não há então porque relutar em querer existir, em querer vencer. Nunca ganhamos essa guerra e nem nunca vamos ganhar. Há quem ainda queira ser um pouco mais otimista do que isso, e devo congratular todos esses pobres iludidos. Existe sim talvez certa glória em morrer lutando, mas existe ainda sim um certo toque do que é torpe na sua mais pura forma. Não existem premiações para os mais esforçados. Não há motivos para acreditar que seremos transformados em heróis, pois não há heróis.
Resta-nos porém, ser imortalizados em nossas formas. Buscar uma forma de se manter e conservar para que os próximos soldados tenham algo para se apoiar. Sempre fora assim conosco, sempre tivemos uma muleta ou tipóia para nos socorrer quando quer que fosse a perda de um membro. Todos já perdemos uma perna ou um braço, e se ainda não aconteceu a um jovem é pois ainda está por vir o dia mais miserável de sua vida. Brigamos para não perder, mesmo tendo consciência do que está por vir. Ainda sim, não devemos perder a mais bela forma humana: a de ter fé.



Incontestavelmente eu**

Relevante ser


Veio o vento sem mais deixar de urrar
Lá por volta das redondezas de não mais fazer
Onde tudo eram flores, sem fugir assim do romântico

Minhas pernas me levaram para o teu lugar onde não mais eras
Plantado então, estava perante o mesmo sol que faiscou três chuvas atrás
Era o encontro do pesado e do leve

Foi em um abismo qualquer que gritava o teu nome,
Sem hesitar, que me deixei rogar todos os arrependimentos de não dizer
Nada que sempre era o que não deixaste de ser tu

Mais um perdido com um rumo no reino verde do teu ser
Com o meu conglomerado de raiva pendular
Passei a rabiscar louças em um vasto pingo d’água

Foram mais de três relatos os meus queimados
Sem qualquer cuidado, fui aniquilado
Passando então, a haver no real medo de existir.



Incontestavelmente eu**

segunda-feira, julho 09, 2007

Não mais rodar


Mais nada vai me fazer mudar, muito menos a ti.
Já deixei de saber, já me deixei ignorar todas as poucas sentenças.
Tudo que era vago, passou a ser um vazio muito cheio.
Muitos dos anos que já se foram se transformaram em tudo aquilo que eu vou um dia ser.
Com o vento ao meu lado, com todas as folhas como aliadas, não havia mais nada a temer.

Quem sabe se de fato deveria eu mudar.
Abdiquei de fazer nascer os gestos mais grotescos da sua existência.
Não há mais uma linha contínua que possa juntar as três voltas.
Passei a divagar pelos campos de não mais querer.
Os seus gritos surdos e os meus silêncios de conformismo foram os que mais puderam me atrelar ao que era então transitório.

A caminhada dos malditos, dos não menos afortunados do que tu, foi uma das mais ilustres fascinações que fora omitida e escondida pelas terras.
Era incrivelmente vergonhoso não ser mais aquilo, mas quando passei a viver um novo tu, era mais do que simples dizer que era falho.
Colou então, todos os desenhos do não mais viver sem haver.



Incontestavelmente eu**

quarta-feira, julho 04, 2007

Mais uma liga rompida


E quando foi que deixei de ser? Não me lembro de ter dito que não era mais. Talvez tenha sido um dia desses que você tenha confundido o meu “sim” com um outro “não” qualquer, mas tenho certeza de que sempre me deixei ser.
Chega, não são mais necessárias quais quer tipo de delongas. Deve-se agora, subir as cortinas. Não há mais nada clichê do que isso, mas, fazer o quê? Quando começarem as luzes a acenderem, e os sons a tocarem, todos devem levantar. Sem exceção alguma, isso sem dúvida.
Foi em um dia branco... Lembro-me bem da expressão na sua cara. Era meio seca, mas eu podia sentir, podia tocar sem usar as mãos, podia ver toda a sua alma. Nossa, preciso parar de usar clichês, posso me tornar uma pessoa qualquer dessa maneira.
Quando vocês tornarem as costas para mim, por favor, não se esqueçam de todo o trabalho que pus aqui. Foi difícil demais largar todos os hábitos, todas as folhas e os vestidos. Talvez seja propício que o piano aumente a intensidade da música agora, mas por favor senhor pianista, que isso fique a seu critério.
É hora de deixar o seu lado. O barulho do trem vem vindo, numa constante muito irritante e eu não suporto mais os fios a explodirem, também de forma invariável. Tudo me irrita, inclusive você. Por mais que repare nos vermelhos veios na sua face, eu não mais aturo essa minha transição. Deveriam ter me avisado que seria assim doloroso.
E agora, peço que caminhem lentamente em direção às portas. Peço desculpas pela vida curta que tive, pela mera apresentação, mas foi assim que me ocorreu. Tudo muito rápido, nada que tenha valido a pena. Ah! E os trocados, os poucos trocados que talvez queiram deixar, entreguem a um apaixonado qualquer... quem sabe possa ser eu o mendigo.



Incontestavelmente eu**

segunda-feira, julho 02, 2007

Choque redondo


Essa não vai ser mais uma estória de amor, ou igual a qualquer outra que já te contaram sobre os crimes de corruptos. Muitas das coisas que se ouvem por aí têm algum tipo de fundo insano. É incrível o número de casos de pessoas neuróticas, que beiram a loucura completa e sem volta por causa do stress da cidade, dos problemas que os tempos modernos trouxeram. Mas e quando se trata de algum tipo de comportamento psicótico infantil?
Eu não suportava, um minuto se quer, daquela ladainha toda sobre como eu deveria me manter alerta sobre qualquer tipo de possível ameaça de maus intencionados. “Podem tentar te roubar, sabia? Eu sei que você não tem muito dinheiro querido, mas podem tentar pegar o teu lanche!” e por mais que eu soubesse que minha mãe queria apenas me proteger, todas essas atenções me sufocavam. Até o dia que parou de ser algo lento, um movimento gradativo que me soterrava. Foi algo assim meio estático por um instante, e depois foi como uma avalanche. Eu não mais conseguia me conter e todos os meus gritos, os meus urros vieram para fora de mim, como se estivesse possuído. O pior de tudo, foi que de fato muitos acreditaram nessa suposição. Minha avó sempre fora muito religiosa e mandara o padre da cidade me benzer. A cena foi ridícula, pra não dizer patética e lamentável. Sentia pena dos meus parentes, deles todos que prezavam por mim e acreditavam que de fato poderiam me beneficiar de alguma forma. Ninguém nunca notou como eu era um caso perdido.
Machucou demais ver as folhas das árvores murcharem, assim como as flores perderam os seus perfumes. Mais do que qualquer coisa, a perda maior da minha infância foi quando o meu passarinho morreu de frio. Meu pai o esqueceu do lado de fora de casa antes de irmos para a festa de natal na casa da vovó e quando voltamos, ele estava duro, caído no fundo da gaiola. Nunca mais perdoei o meu pai por isso, foi algo assim inimaginável o que ele tinha feito. Homicídio culposo, sem vias de fugir da sentença. Acho que foi nesse dia que passei a contar a vida de forma regressiva. Foi nessa época que planejei o meu primeiro crime. O cachorro do vizinho era um bem pequeno e muito barulhento, que sempre me incomodava o dia inteiro. Não importava o que acontecesse na rua, ele sempre latia, dia e noite, sem parar. Correção, ele parou sim e foi de noite. Estava uma brisa fresca e não havia uma nuvem se quer no céu, conseguia ver todas as estrelas e melhor ainda via o cachorro a dormir em um canto, perto do pé de uma árvore que dividia o meu jardim da casa do vizinho. Eu conseguia acompanhar a respiração do diabinho e meus passos começaram a pulsar na mesma freqüência que ele. Tinha pegado um garfo antes na cozinha, mas achei que era meio impróprio e repulsivo matar um cachorro com um garfo. Se fosse um daqueles de churrasco, quem sabe... mas o meu era um comum, com pontas redondas que não fariam o menor dano, além claro, de muito barulho. Peguei uma faca que estava na pia, foi difícil de a alcançar, mas consegui. Com os meus 5 anos, eu já tinha as minhas artimanhas para fazer quase tudo o que me era negado. Enfim, a faca era pontuda, prateada, e gritava meu nome. Já faziam noites que a escutava gritar, mas achava que era apenas o vento ou o inverno. Mas tudo bem, porque todo o esforço fez por valer a pena. Eu não me lembro de muita coisa, mas tenho certeza que o cachorro soltou apenas um pequeno grito. Acho que o escasso número de pedidos de socorro do canino deve-se ao fato de eu ter começado pela boca. Enfiei-lhe a faca inteira goela abaixo, e remexi lá dentro, como quem busca raspar o fundo de um pote de doces. Como era muito pequenino, não houve muito sangue, mas a quantidade me assustou na época.
Hoje, quase mais nada me assusta. Quando vejo a televisão, os noticiários cheios de chacinas e impiedosas decisões dos políticos que não se importam com nada mais do que o seu capital, não sinto qualquer tipo de comoção. Não desperta em mim nenhum tipo de sentimento solidário pelas pessoas que perderam seus parentes em mais um ataque terrorista, ou então por aqueles desafortunados que não têm o que comer, muito menos onde caírem mortos. Acredito eu, mero mortal, que todo esse meu jeito insensível de ser seja apenas resultado de uma inércia, que começou anos atrás. Não sou pessoa de culpar os pais ou os professores por nada, por mais que acredite que eles têm sim grande parte da culpa por meu estado deplorável em que me encontro hoje. Mas tenho colhões suficientes para dizer que a culpa é inteira minha, fui eu quem me arrastei até esse lixo, esse buraco imundo sem fundo ou saída.
Não sei porquê tudo é branco. Gosto muito mais do vermelho, e acredito que todos aqui preferem também. Não sou o único maníaco psicopata que mora aqui, mas talvez seja o único que tenha vindo parar aqui por vontade própria. Dou liberdade para você me crucificar, ou quem sabe até mesmo aplaudir, por ter me voluntariado em uma clínica mental, mas acho que era mesmo coisa do destino eu terminar os meus dias por aqui. Não que eu acredite em destino ou qualquer coisa que esteja ligada aos astros e qualquer outro tipo de previsão melosa de pessoas ainda mais grudentas e chatas. A minha brilhante conclusão era que seria menos doloroso passar o resto da vida em um lugar onde existam outros débeis assim como eu, do que em uma prisão maldita em que os indivíduos se acham assim tão superiores por terem assaltado uma lojinha qualquer ou terem baleado um policial. Eu imaginava ser superior por decidir escolher a mais fácil das opções: escapar da pena de morte e viver em um hospício sem maiores implicações. Como eu já mencionei, eu era débil.
Não agüentei mais do que 3 meses. A casa era simplesmente insuportável e não havia janelas. Não conseguia ver o inverno ou verão. Perdi todas as estrelas e achei as nuvens que, a princípio deveriam estar nos céus, pairando no meu quarto e em seguida, em todas as partes que eram brancas. Eu acho que foram três meses, mas quem sabe se foi menos. Só sei que foi bem rápido que tomei providências para arranjar uma faca. Todas as pontas de qualquer coisa eram redondas, era como se o lugar fosse feito especialmente para um bebê, para que não se machucasse e estivesse livre dos perigos do mundo. É muito bonito como quando somos pequenos o mundo se resume apenas à nossa casa, e todas as pessoas são papai e mamãe. Pena que tive que me desprender rápido demais da minha pequena população doméstica. Foi também em uma noite que esfaqueei meu pai e minha mãe. Os dois estavam dormindo calmante e eu usava duas facas, foi algo meio que assim, simultâneo. Lembro-me de uma expressão levemente horrorizada de minha mãe, que se debatia e relutava contra o seu pequenino filhote. Meu pai não, carregava uma expressão de conformismo, como se já previsse que fosse acontecer isso. Fiquei com muita raiva quando vi o rosto de papai assim tão resignado.
Sempre tive uma atração por facas, sempre as achei mais eficientes e mais magistrais do que armas de fogo. Onde estaria o prazer de usar um revólver? Só sei eu que queria que minha partida fosse a mais bela e pura de todas. Quem sabe se certa soberba me invadiu, mas sei eu que foi algo assim muito libertador como a fiz. Cheguei a ver um pouco do meu sangue jorrar no chão que era branco, tão branco. Senti um leve perfume doce, de margaridas quem sabe. Alguns gritos mais eu escutei no fundo, mas depois disso, não me lembro de muito mais. Chegou a doer, porém muito pouco, a dor foi logo fulminada por um prazer intenso, por uma libertação suprema e completa. A última coisa que senti, que vi ou escutei, foi um pequeno cão todo vermelho. Quem sabe se na verdade, tudo era apenas uma pequena representação de uma vontade maior de terminar o que nunca deveria ter começado.



>> para o frango xadrez... ops! quero dizer, para o Levin... hehehe


Incontestavelmente eu**

domingo, julho 01, 2007

Me distraio


Sou a inveja do vento
Mas deixei de me distrair
Com os rotos invernos
Há mais de setenta sinos

Naquela cruz, largada sobre os teus pés
Abdiquei eu de fazer histórias,
Dos mais belos vestidos de tule
Sem jamais recusar todos os sete pecados

Todo desconforto dos poemas,
Todas as tuas bocas,
Tudo o que sempre foi o meu caos
Se transformou nos nossos anseios mais toscos

Foi longe de hoje, que tu recusaste
Minha pequenina porção de angelicais toques
Foram de forma descontínua que permiti levar-me
Para o meio da tua soberba

Vendi os meus sapatos,
Salguei os meus olhos,
Acarinhei as lápides,
Brinquei enfim de ser besta

Deixei de ter mãos,
Minha grama não mais gorjeava
Ou se quer minha identidade tinha cor,
Rocei pela última vez nas janelas inconstantes de minha vala

A mais bela de todas as pegadas
Foi então refeita sem esmero algum
Mas sei eu que feri todos os teus vales
Sem tu afagar os meus já velhos urros.


>> para o Dudu... vulgo Orozco, hehehe


Incontestavelmente eu**