domingo, outubro 21, 2007

Chantagear o mundo


O meu perecer não faz mais parte da minha alma
Não vou mais me permitir almejar qualquer que seja o sonho
Dói demais vê-los todos quebrar e cair

Meus sonhos são meus versos

Não suporto mais vê-los largados nas sarjetas de tuas casas
Machuca saber que nunca serão sonhados por ninguém mais que eu

Meus sonhos não têm culpa de serem meus
Não tiveram escolha senão serem de mim
Por favor, não os menospreze apenas porque são simplórios, porque são poucos

Quero apenas pedir a tua atenção para os meus dedos,
Para poder ver como são nas suas pontas onde habitam as minhas palavras
Para compreender como as idéias se posicionam na minha mente

Não os julgue por serem meus,
Não me julgue pelos meus versos

Pisar sem calçados na neve, e andar sob as raízes invertidas de uma árvore
Caminhar assim é viver em mim todos os dias
Escutar as minhas palavras é estar comigo, é ser eu

Não quero que leias o que sou,
Quero só que não morra em mim o que sempre sonhei, o que sempre imaginei
Não quero ter que chorar as misérias do mundo, quero apenas fazer as minhas

Correr não é mais a solução, tornou-se o problema

Brincar sempre de negar é sempre mais fácil do que dizer “sim”
E é justamente o meu negar que toma forma e ocupa a sala inteira, a cidade inteira, o mundo inteiro,
O corpo inteiro

Quero que as minhas palavras cresçam o suficiente para me amare e me abraçarem um dia
Quero que os meus sonhos sejam grandes o suficiente para cobrirem as minhas infelicidades e transformá-las em um manto qualquer

Preciso parar de querer, preciso passar a fazer

Nunca soube rimar meus sonhos, mas sempre soube sonhar
Minha mãe querida jamais me ensinou a brincar, a ser, a amar
Já meu pai... meu pai também nunca me ensinou a viver

Talvez precise pensar mais sobre as minhas frases,
Talvez deva me dedicar mais a elas, a todas elas
Quem sabe assim serão melhores aceitas por ti

Teus restos não são melhores do que nada que já foi meu

Minhas mãos já não andam sozinhas,
Minhas primaveras não são mais as mesmas,
Muito menos eu sou o mesmo

Quero apenas que meus cabelos fiquem brancos,
Que meus fios se soltem de minha cabeça,
Que eles dancem por todas as cidades,
Que beijem todos os lábios daqueles que sabem o que é sonhar

Vou lançar agora a minha sorte ao vento
Vou fazer com que ele eternize meus sonhos,
Com que meus versos sejam ditos por mais alguém,
Que sejam amados por outro assim como eu os amei

Eles serão um dia o marco de toda a História
Não deprecie minha capacidade,
Minhas idéias são muito maiores do que as tuas.


Incontestavelmente eu**

Dissonar


Hoje aprendi sobre a palavra carne
Aprendi que se pode rimá-la com sono
E a partir de então, permite-me rimá-la com o mundo inteiro

Rimei com a primavera, com as ruas e com os quartos
Usei as alianças dos casais como suporte dos primeiros versos
E terminei-os com todo o esmero de todos os livros já escritos

Foi quando cheguei até você,
Por algum motivo maior, a rima parou, estancou e não quis mais andar
A minha carne rimou com tudo e todos, mas a você ela não desejou

Não compreendi direito o porquê, e então insisti em fazer a rima dar certo
Mas nada aconteceu, ficou ali estático o seu nome perto da minha carne

Foi daí que terminei com esses pobres versos,
Foi quando tentei fazer você ficar perto de mim

São assim bem simples, assim como é minha afeição por você
Não se explica com fundamentalismos filosóficos, mas sim pelo tato
É tangível ao toque o quanto quero a você

Acho eu, que cansei de tentar fazer as coisas se encaixarem
Se fosse para a rima dar certo,
Ela já estaria a me esperar para ser feita

Voltei para os meus miseráveis poemas
Para me deparar com todos os meus mais belos versos,
Com o seu verso jogado ao léu do meu calor

E depois de caminhar por todas as vias sem fim da minha insanidade
Cabe a ninguém mais do que eu deixar as palavras como estão e não mais almejar coisa alguma

Vou deixar para os meus outros poemas terminarem o que eu comecei
Assim tão invariavelmente sem pensar, sem prezar, sem amar.


Incontestavelmente eu**

segunda-feira, agosto 13, 2007

Beijo


Foi uma convivência meramente insuportável,
Que não mais era predestinada
Enquanto eu rumava para o meu teto de madeira,
Deixava para trás todas as roupas contigo

Um dia eu sei que foi certo
E amanhã saberei do leite que chega à porta
Mas cabe ao presente me sentar no colo, para niná-lo sem me esmorecer
Daí então caminhei até um pingüim que veja só, estava sentado bem do teu lado!

As palavras já não fluíam com o vento,
E me partia cada vez mais ver todos os bules do mundo, todas as chaleiras a gritarem fumaças pelo [ar

Nas árvores então passei a habitar,
Não tinha mais medo de altura e não tinha medo de cair
Todos os receios que tinha perto de ti, sumiram
E o dia mais revelador de todos foi quando cai pela primeira vez

Deixava-te para trás e senti a terra embaixo dos meus pés,
A matéria orgânica era o compasso de uma triunfal retirada
Eu sou tudo e todos, sem hesitação ou inquietações
Passei a transbordar por todas as matérias

Foi no dia que quebrei o céu, que criei rachaduras nas nuvens
Que tu imploraste por mais um cheiro, mais um sabor do real medo de viver
Mas daí meu amigo, já estávamos longe demais de qualquer beijo
Foram então em sete dias que fugi, cai, deitei e morri.



Incontestavelmente eu**

domingo, julho 22, 2007

Roguei ser


Não suporto mais escutar um qualquer falar de suas fúteis inquietações, como é renegado ou excluído, como é incompreendido e reprimido. Canso eu de ouvir quaisquer que sejam essas reclamações poucas e inúteis. Passo a transcender entre as súplicas dos mais marginais e as revoltas gritadas dos menos afortunados.
É então entre todas as vias que nos correm que me acho enfim, pertencente ao grupo ignóbil dos seres: eu agora, reclamo da vida. Sou um sofredor em potencial que atingiu o seu auge do ridículo, passei a contestar como as pessoas a minha volta me tratam e até mesmo como elas agem entre si e por si próprias.
O que segue então, é algo assim volátil. Não é mais comum ao toque eu ser a vítima. Nunca precisei de ajuda ou se quer hesitei em reivindicar uma interpretação errônea em relação a mim. Mas hoje cabe, hoje eu visto um burlesco ato de viver em constante incerteza.
Percorrer entre as relvas mais murchas, ou por colinas espelhadas é hoje um mero ato transitório. Por mais que eu seja por fim, algo leviano, eu deixei de ser um palhaço qualquer para ser mais um bobo frívolo e mundano. Posso urrar as minhas dúvidas e não mais serei reprimido por não precisar de análise ou ajuda. Sou hoje, um borrão qualquer em meio a uma multidão apressada e sem escrúpulos. Vivo livre em uma sociedade bruta e uniforme.


Incontestavelmente eu**

segunda-feira, julho 16, 2007

Vala comum


A minha e a sua vida são assim como guerras. São guerras individuais e distintas umas das outras, cada qual com seus campos de batalha e armas. Mas há algo então, em comum que nos liga a uma vontade maior: temos todos os mesmos inimigos. Por mais que talvez o meu se disfarce assim e o seu daquele outro jeito, temos todos o tempo contra nós. Diferencia-se então, a forma como batalhamos contra esses adversários imaginários, mas ainda sim, por mais fictícios que possa dizer sê-los, são sempre os mais reais, os que mais te alcançam.
Garanto uma vida de dor e muito sofrimento. Cada um de nós enfrenta então a guerra de uma maneira. Posso eu ter uma atitude mais agressiva, e você mais ofensiva. Ainda sim, o desfecho de cada batalha é imensamente diferente, e cada um desses finais é que vai traçar a trajetória que iremos seguir. No fim da guerra, todas as nossas experiências e vivências é que irão nos conduzir na direção certa. O que é correto para mim pode ser imoral para você.
No final das contas, nada disso importa. Por mais que façamos tudo, pois nos foi concebido tal, não importa porque vamos todos terminar da mesma forma. Vamos todos terminar em alguma vala comum, quem sabe até eu e você no mesmo buraco. Não há então porque relutar em querer existir, em querer vencer. Nunca ganhamos essa guerra e nem nunca vamos ganhar. Há quem ainda queira ser um pouco mais otimista do que isso, e devo congratular todos esses pobres iludidos. Existe sim talvez certa glória em morrer lutando, mas existe ainda sim um certo toque do que é torpe na sua mais pura forma. Não existem premiações para os mais esforçados. Não há motivos para acreditar que seremos transformados em heróis, pois não há heróis.
Resta-nos porém, ser imortalizados em nossas formas. Buscar uma forma de se manter e conservar para que os próximos soldados tenham algo para se apoiar. Sempre fora assim conosco, sempre tivemos uma muleta ou tipóia para nos socorrer quando quer que fosse a perda de um membro. Todos já perdemos uma perna ou um braço, e se ainda não aconteceu a um jovem é pois ainda está por vir o dia mais miserável de sua vida. Brigamos para não perder, mesmo tendo consciência do que está por vir. Ainda sim, não devemos perder a mais bela forma humana: a de ter fé.



Incontestavelmente eu**

Relevante ser


Veio o vento sem mais deixar de urrar
Lá por volta das redondezas de não mais fazer
Onde tudo eram flores, sem fugir assim do romântico

Minhas pernas me levaram para o teu lugar onde não mais eras
Plantado então, estava perante o mesmo sol que faiscou três chuvas atrás
Era o encontro do pesado e do leve

Foi em um abismo qualquer que gritava o teu nome,
Sem hesitar, que me deixei rogar todos os arrependimentos de não dizer
Nada que sempre era o que não deixaste de ser tu

Mais um perdido com um rumo no reino verde do teu ser
Com o meu conglomerado de raiva pendular
Passei a rabiscar louças em um vasto pingo d’água

Foram mais de três relatos os meus queimados
Sem qualquer cuidado, fui aniquilado
Passando então, a haver no real medo de existir.



Incontestavelmente eu**

segunda-feira, julho 09, 2007

Não mais rodar


Mais nada vai me fazer mudar, muito menos a ti.
Já deixei de saber, já me deixei ignorar todas as poucas sentenças.
Tudo que era vago, passou a ser um vazio muito cheio.
Muitos dos anos que já se foram se transformaram em tudo aquilo que eu vou um dia ser.
Com o vento ao meu lado, com todas as folhas como aliadas, não havia mais nada a temer.

Quem sabe se de fato deveria eu mudar.
Abdiquei de fazer nascer os gestos mais grotescos da sua existência.
Não há mais uma linha contínua que possa juntar as três voltas.
Passei a divagar pelos campos de não mais querer.
Os seus gritos surdos e os meus silêncios de conformismo foram os que mais puderam me atrelar ao que era então transitório.

A caminhada dos malditos, dos não menos afortunados do que tu, foi uma das mais ilustres fascinações que fora omitida e escondida pelas terras.
Era incrivelmente vergonhoso não ser mais aquilo, mas quando passei a viver um novo tu, era mais do que simples dizer que era falho.
Colou então, todos os desenhos do não mais viver sem haver.



Incontestavelmente eu**

quarta-feira, julho 04, 2007

Mais uma liga rompida


E quando foi que deixei de ser? Não me lembro de ter dito que não era mais. Talvez tenha sido um dia desses que você tenha confundido o meu “sim” com um outro “não” qualquer, mas tenho certeza de que sempre me deixei ser.
Chega, não são mais necessárias quais quer tipo de delongas. Deve-se agora, subir as cortinas. Não há mais nada clichê do que isso, mas, fazer o quê? Quando começarem as luzes a acenderem, e os sons a tocarem, todos devem levantar. Sem exceção alguma, isso sem dúvida.
Foi em um dia branco... Lembro-me bem da expressão na sua cara. Era meio seca, mas eu podia sentir, podia tocar sem usar as mãos, podia ver toda a sua alma. Nossa, preciso parar de usar clichês, posso me tornar uma pessoa qualquer dessa maneira.
Quando vocês tornarem as costas para mim, por favor, não se esqueçam de todo o trabalho que pus aqui. Foi difícil demais largar todos os hábitos, todas as folhas e os vestidos. Talvez seja propício que o piano aumente a intensidade da música agora, mas por favor senhor pianista, que isso fique a seu critério.
É hora de deixar o seu lado. O barulho do trem vem vindo, numa constante muito irritante e eu não suporto mais os fios a explodirem, também de forma invariável. Tudo me irrita, inclusive você. Por mais que repare nos vermelhos veios na sua face, eu não mais aturo essa minha transição. Deveriam ter me avisado que seria assim doloroso.
E agora, peço que caminhem lentamente em direção às portas. Peço desculpas pela vida curta que tive, pela mera apresentação, mas foi assim que me ocorreu. Tudo muito rápido, nada que tenha valido a pena. Ah! E os trocados, os poucos trocados que talvez queiram deixar, entreguem a um apaixonado qualquer... quem sabe possa ser eu o mendigo.



Incontestavelmente eu**

segunda-feira, julho 02, 2007

Choque redondo


Essa não vai ser mais uma estória de amor, ou igual a qualquer outra que já te contaram sobre os crimes de corruptos. Muitas das coisas que se ouvem por aí têm algum tipo de fundo insano. É incrível o número de casos de pessoas neuróticas, que beiram a loucura completa e sem volta por causa do stress da cidade, dos problemas que os tempos modernos trouxeram. Mas e quando se trata de algum tipo de comportamento psicótico infantil?
Eu não suportava, um minuto se quer, daquela ladainha toda sobre como eu deveria me manter alerta sobre qualquer tipo de possível ameaça de maus intencionados. “Podem tentar te roubar, sabia? Eu sei que você não tem muito dinheiro querido, mas podem tentar pegar o teu lanche!” e por mais que eu soubesse que minha mãe queria apenas me proteger, todas essas atenções me sufocavam. Até o dia que parou de ser algo lento, um movimento gradativo que me soterrava. Foi algo assim meio estático por um instante, e depois foi como uma avalanche. Eu não mais conseguia me conter e todos os meus gritos, os meus urros vieram para fora de mim, como se estivesse possuído. O pior de tudo, foi que de fato muitos acreditaram nessa suposição. Minha avó sempre fora muito religiosa e mandara o padre da cidade me benzer. A cena foi ridícula, pra não dizer patética e lamentável. Sentia pena dos meus parentes, deles todos que prezavam por mim e acreditavam que de fato poderiam me beneficiar de alguma forma. Ninguém nunca notou como eu era um caso perdido.
Machucou demais ver as folhas das árvores murcharem, assim como as flores perderam os seus perfumes. Mais do que qualquer coisa, a perda maior da minha infância foi quando o meu passarinho morreu de frio. Meu pai o esqueceu do lado de fora de casa antes de irmos para a festa de natal na casa da vovó e quando voltamos, ele estava duro, caído no fundo da gaiola. Nunca mais perdoei o meu pai por isso, foi algo assim inimaginável o que ele tinha feito. Homicídio culposo, sem vias de fugir da sentença. Acho que foi nesse dia que passei a contar a vida de forma regressiva. Foi nessa época que planejei o meu primeiro crime. O cachorro do vizinho era um bem pequeno e muito barulhento, que sempre me incomodava o dia inteiro. Não importava o que acontecesse na rua, ele sempre latia, dia e noite, sem parar. Correção, ele parou sim e foi de noite. Estava uma brisa fresca e não havia uma nuvem se quer no céu, conseguia ver todas as estrelas e melhor ainda via o cachorro a dormir em um canto, perto do pé de uma árvore que dividia o meu jardim da casa do vizinho. Eu conseguia acompanhar a respiração do diabinho e meus passos começaram a pulsar na mesma freqüência que ele. Tinha pegado um garfo antes na cozinha, mas achei que era meio impróprio e repulsivo matar um cachorro com um garfo. Se fosse um daqueles de churrasco, quem sabe... mas o meu era um comum, com pontas redondas que não fariam o menor dano, além claro, de muito barulho. Peguei uma faca que estava na pia, foi difícil de a alcançar, mas consegui. Com os meus 5 anos, eu já tinha as minhas artimanhas para fazer quase tudo o que me era negado. Enfim, a faca era pontuda, prateada, e gritava meu nome. Já faziam noites que a escutava gritar, mas achava que era apenas o vento ou o inverno. Mas tudo bem, porque todo o esforço fez por valer a pena. Eu não me lembro de muita coisa, mas tenho certeza que o cachorro soltou apenas um pequeno grito. Acho que o escasso número de pedidos de socorro do canino deve-se ao fato de eu ter começado pela boca. Enfiei-lhe a faca inteira goela abaixo, e remexi lá dentro, como quem busca raspar o fundo de um pote de doces. Como era muito pequenino, não houve muito sangue, mas a quantidade me assustou na época.
Hoje, quase mais nada me assusta. Quando vejo a televisão, os noticiários cheios de chacinas e impiedosas decisões dos políticos que não se importam com nada mais do que o seu capital, não sinto qualquer tipo de comoção. Não desperta em mim nenhum tipo de sentimento solidário pelas pessoas que perderam seus parentes em mais um ataque terrorista, ou então por aqueles desafortunados que não têm o que comer, muito menos onde caírem mortos. Acredito eu, mero mortal, que todo esse meu jeito insensível de ser seja apenas resultado de uma inércia, que começou anos atrás. Não sou pessoa de culpar os pais ou os professores por nada, por mais que acredite que eles têm sim grande parte da culpa por meu estado deplorável em que me encontro hoje. Mas tenho colhões suficientes para dizer que a culpa é inteira minha, fui eu quem me arrastei até esse lixo, esse buraco imundo sem fundo ou saída.
Não sei porquê tudo é branco. Gosto muito mais do vermelho, e acredito que todos aqui preferem também. Não sou o único maníaco psicopata que mora aqui, mas talvez seja o único que tenha vindo parar aqui por vontade própria. Dou liberdade para você me crucificar, ou quem sabe até mesmo aplaudir, por ter me voluntariado em uma clínica mental, mas acho que era mesmo coisa do destino eu terminar os meus dias por aqui. Não que eu acredite em destino ou qualquer coisa que esteja ligada aos astros e qualquer outro tipo de previsão melosa de pessoas ainda mais grudentas e chatas. A minha brilhante conclusão era que seria menos doloroso passar o resto da vida em um lugar onde existam outros débeis assim como eu, do que em uma prisão maldita em que os indivíduos se acham assim tão superiores por terem assaltado uma lojinha qualquer ou terem baleado um policial. Eu imaginava ser superior por decidir escolher a mais fácil das opções: escapar da pena de morte e viver em um hospício sem maiores implicações. Como eu já mencionei, eu era débil.
Não agüentei mais do que 3 meses. A casa era simplesmente insuportável e não havia janelas. Não conseguia ver o inverno ou verão. Perdi todas as estrelas e achei as nuvens que, a princípio deveriam estar nos céus, pairando no meu quarto e em seguida, em todas as partes que eram brancas. Eu acho que foram três meses, mas quem sabe se foi menos. Só sei que foi bem rápido que tomei providências para arranjar uma faca. Todas as pontas de qualquer coisa eram redondas, era como se o lugar fosse feito especialmente para um bebê, para que não se machucasse e estivesse livre dos perigos do mundo. É muito bonito como quando somos pequenos o mundo se resume apenas à nossa casa, e todas as pessoas são papai e mamãe. Pena que tive que me desprender rápido demais da minha pequena população doméstica. Foi também em uma noite que esfaqueei meu pai e minha mãe. Os dois estavam dormindo calmante e eu usava duas facas, foi algo meio que assim, simultâneo. Lembro-me de uma expressão levemente horrorizada de minha mãe, que se debatia e relutava contra o seu pequenino filhote. Meu pai não, carregava uma expressão de conformismo, como se já previsse que fosse acontecer isso. Fiquei com muita raiva quando vi o rosto de papai assim tão resignado.
Sempre tive uma atração por facas, sempre as achei mais eficientes e mais magistrais do que armas de fogo. Onde estaria o prazer de usar um revólver? Só sei eu que queria que minha partida fosse a mais bela e pura de todas. Quem sabe se certa soberba me invadiu, mas sei eu que foi algo assim muito libertador como a fiz. Cheguei a ver um pouco do meu sangue jorrar no chão que era branco, tão branco. Senti um leve perfume doce, de margaridas quem sabe. Alguns gritos mais eu escutei no fundo, mas depois disso, não me lembro de muito mais. Chegou a doer, porém muito pouco, a dor foi logo fulminada por um prazer intenso, por uma libertação suprema e completa. A última coisa que senti, que vi ou escutei, foi um pequeno cão todo vermelho. Quem sabe se na verdade, tudo era apenas uma pequena representação de uma vontade maior de terminar o que nunca deveria ter começado.



>> para o frango xadrez... ops! quero dizer, para o Levin... hehehe


Incontestavelmente eu**

domingo, julho 01, 2007

Me distraio


Sou a inveja do vento
Mas deixei de me distrair
Com os rotos invernos
Há mais de setenta sinos

Naquela cruz, largada sobre os teus pés
Abdiquei eu de fazer histórias,
Dos mais belos vestidos de tule
Sem jamais recusar todos os sete pecados

Todo desconforto dos poemas,
Todas as tuas bocas,
Tudo o que sempre foi o meu caos
Se transformou nos nossos anseios mais toscos

Foi longe de hoje, que tu recusaste
Minha pequenina porção de angelicais toques
Foram de forma descontínua que permiti levar-me
Para o meio da tua soberba

Vendi os meus sapatos,
Salguei os meus olhos,
Acarinhei as lápides,
Brinquei enfim de ser besta

Deixei de ter mãos,
Minha grama não mais gorjeava
Ou se quer minha identidade tinha cor,
Rocei pela última vez nas janelas inconstantes de minha vala

A mais bela de todas as pegadas
Foi então refeita sem esmero algum
Mas sei eu que feri todos os teus vales
Sem tu afagar os meus já velhos urros.


>> para o Dudu... vulgo Orozco, hehehe


Incontestavelmente eu**

domingo, junho 03, 2007

Constância do transitório


Beije a minha seda
E case com a sua audácia,
Leve consigo o meu ardor
E esqueça aqui as ruas molhadas

Dance nos bares em que morei
E deixe-me laçar os meus dedos,
Costure os seus risos
E destrua as minhas verdades

Seja o que eu sempre fui
E brinque de nunca estar,
Goze das minhas tragédias
E deixe estar as suas mentiras

Vaze como o vinho das uvas
E ame as meninas de puras luxúrias,
Tome posse dos palácios de penas
E ofegue sobre os vidros daquela outra janela

Rosne os seus anseios
E toque os pianos de pretas caudas,
Finja ser o que eu sempre quis
E abandone as coisas como estão.



Incontestavelmente eu**

terça-feira, maio 08, 2007

Angst


Angst – Medo
Emoção desagradável, amiúde intensa, causada pelo
pressentimento ou pelo reconhecimento do perigo.
Vocábulos correlatos: terror, pavor, pânico, susto, sobressalto


Será que todos mereciam morrer? Será que todos merecemos morrer? Eu digo que sim, caso contrário, não estaríamos todos predestinados à morte. E há quem questione a morte de crianças ou pessoas corretas, mas eu afirmo que se faleceram, por causa natural ou não, é porque apenas lhe foram tiradas uma vida de motivos que viriam a justificar a sua morte. Não há como, somos todos merecedores da morte, uns mais do que os outros, mas todos fazemos jus a ela.


Incontestavelmente eu**

terça-feira, abril 10, 2007

A alça


Eu furo os teus olhos,
Quero ver o sangue jorrar do teu rosto,
Lembro de uma velha canção da minha infância,
Mas não choro

Choro lágrimas caóticas
Que se sobrepõem à ordem natural dos ventríloquos
Daí vem então caminhando lentamente
Até atingir o meu veio principal de dor

São fotocópias de uma vida minha
Que não mais é aquela bem-amada do frescor vespertino
Já foram belas tendenciosas iguarias estrelares
Nada mais me resta, se não te furar os olhos.



Incontestavelmente eu**

quinta-feira, março 22, 2007

Quem tem medo do Minotauro?


Por que tudo passa, e não haveria porque o tempo ser diferente. O amadurecimento de cada um de nós sempre chega. A transição da infância para a adolescência, dessa para a fase adulta, e por fim a velhice. Cada qual com seus acontecimentos característicos. A pauta hoje porém, é a adolescência, mas especificamente por volta dos 17 anos: a escolha profissional.
As nossas brincadeiras de faz-de-conta sempre, ou quase sempre, eram situadas em um futuro distante onde já dirigíamos, pagávamos contas e trabalhávamos. O mais interessante é que não importava qual a profissão da brincadeira, ela sempre era mágica e fascinante. Ah, bons tempos quando a realidade ainda não havia chegado. Mas, ACORDE! Você tem 17 anos e precisa decidir o que vai fazer para o resto de sua vida.
Não tenho medo de usar termos como “toda a vida” já que é apenas a verdade (nua e crua, sim, ela tem te atingido mais vezes do que você gostaria). A magnitude da escolha profissional é tão gigantesca que terá conseqüências catastróficas de escala universal se você não fizer a escolha certa: você pode perder anos da sua vida na faculdade errada até você perceber que aquilo não te agrada; você pode perder anos da sua vida até você descobrir o que quer; ou ainda pior, escolher algo que te faça miserável e infeliz e você sequer trocar de profissão já que esta é a situação mais confortável e segura .
O cenário que pintei te aterroriza demais? Caso não, sinta-se abençoado por saberes o que queres da vida pois pelo menos 70% dos estudantes nesta fase da vida ainda não sabem o que querem ou não têm certeza ainda se o que escolheram é certo. Por mais maduras que sejam as cabecinhas de alguns poucos, a escolha profissional pode ser um labirinto do Minotauro para a maioria. Mas, para aqueles que ainda têm um ano pela frente até o vestibular, brincar de ser criança pode ser a melhor solução, e por incrível que pareça, a mais sã de todas. E ai, quem quer brincar de médico?





Incontestavelmente eu**

O escudo da vez


O país inteiro ficou sabendo da trágica morte de João Hélio Fernandes, o pobre menino de 6 anos que foi arrastado por 7km no Rio de Janeiro em uma tentativa de assalto. Porém esse não foi o primeiro de uma série de mortes que ocorrem no Brasil e em outros países. São essas fatalidades que horrorizam metade da população mundial. Dentre os cinco acusados de ligação com o crime, um deles tem 16 anos.
Pela lei, ele ainda não tem idade suficiente para responder por seus atos. Ele e milhares de outros que já cometeram, por incrível que pareça, crimes mais hediondos. São esses os impunes da sociedade que vivemos, e é justamente por isso que a questão é de cunho social. Por que caberia apenas aos nossos gloriosos políticos a decisão de punir ou não aqueles jovens inconseqüentes pelos seus crimes? Não seria justo que todos tivéssemos voz em uma decisão dessas? Aparentemente não. Está em pauta agora, a diminuição da maioridade penal do país de 18 anos para 16. Caso essa lei já estivesse em vigor no nosso país há mais tempo, sem a menor sombra de dúvida as penitenciárias estariam transbordando delinqüentes pelos muros. Pior ainda, não teríamos a menor certeza de que de fato os índices criminais fossem mais baixos, caso da Espanha que teve sua maioridade penal diminuída para 14 anos e sua violência só aumentou.
Se devemos mesmo seguir exemplos estrangeiros, devamos seguir exemplos nos quais são investidos o dinheiro público em educação dos jovens, para que não sejam infratores da lei antes mesmo de poderem ser punidos por suas ações criminosas, já que aparentemente, temos todos a sina do crime em nossos caminhos ou em algum outro que cruze o nosso. Não devemos apenas nos iludir com a linda suposição de que essa será a solução de todos os problemas de violência no país, eles vão muito além disso: o tráfico e todo o universo criminal, a falta de educação popular, o desemprego, dentre outras causas. Cabe a cada um de nós tomar reconhecimento do que realmente mudaria os números das pesquisas, o que realmente mudaria a situação calamitosa atual do país.
Ainda que o super-homem não tenha chegado ao nosso país, criemos nosso próprio, punindo os infratores da lei, por mais novos que sejam. Se alguns deles já podem escolher os caluniosos e ainda tão amados políticos a representarem suas vontades, por que não também responder por suas ações?

Incontestavelmente eu**

sábado, fevereiro 24, 2007

Encolher

Seria essa a terrível tendência das coisas? Quando era pequena, tinha duas pintas no braço que eram bem próximas, era quase impossível notar que havia duas, mas eu sempre soube da segunda pequenininha. Agora, quando olho para o meu braço, vejo as duas distantes, afastadas. Relationships change, evolve. Será esse o significado de evoluir? Será que de fato, todas as coisas na vida simplesmente, se afastam?
Talvez seja um erro dizer que sim. Se olharmos ao nosso redor, ao redor de cada um de nós, em situações e ambientes diferentes, acharemos sempre a mesma situação de distanciamento de tudo. Pessoas, coisas, fatos, sentimentos. Tudo se perde, nada se renova. É triste ver como tudo o que nos foi ensinado é mentira. Não estou negando os benefícios da reciclagem do papel ou do plástico, longe disso! Ainda acredito que o planeta possa ser salvo do aquecimento global, mas, quem sou eu para acreditar em uma raça tão pouco evoluída? Sim, pouco evoluídos são os seres humanos. Não me refiro apenas à imprudência que se decorre com as ações destrutivas à natureza, digo porém que os homens são pouco desenvolvidos quando se trata do coração.
Somos todos emocionalmente instáveis e distantes, não apenas um dos outros, mas de nós mesmos. Incapazes somos de conseguir saber o que queremos e como vamos fazê-lo, tanto é que precisamos pagar terapeutas ou psicólogos para tal. É irônico como buscamos a felicidade sem ao menos saber o que nos faz feliz. Muitos de nós sabem como a família, amigos ou trabalho o fazem felizes, porém ninguém nunca é completo, jamais foi ou será. Talvez seja por isso a incansável busca por um amor perfeito. Ingênuos são aqueles que acreditam que pode-se atingir a felicidade, o intangível, apenas com a presença de outro.
Seres humanos são animais que precisam de contato social. Já foram feitas pesquisas onde pessoas foram isoladas da sociedade, muitas cometeram o tangível, suicídio. Não nego o fato de termos sim que viver em sociedade, que devamos estar perto de pessoas, e ter o contato humano. O essencial porém, que poucos sabem, é que jamais devemos nos apegar. Toda aquela história de que depois da morte, nada do que é material fica é verdade. E não se aplica apenas ao destino trágico de todos, mas também as relações interpessoais. Não nos apegai, só assim serás livre da distância.


Incontestavelmente eu**

domingo, fevereiro 11, 2007

Mal


Por que o amor ainda não invadiu o cômodo?
Cada centelha de vida que passa,
Que passa todo o dia
É incapaz de traduzir
Toda a dor,
Toda a melancolia que é trazida por ti

É como se a vida lhe fugisse pelos dedos
Mas ainda há um emaranhado
Há ainda uma rede que te prende
Não deixas de ser um pecado
Essa tua presença toda,
Toda vazia

Sentir cada lágrima que tu fizeste eu derramar,
Estás assim, a calar tudo
Talvez ainda, incapaz de amar
Hás tu de não usar mais o meu escudo.
Incontestavelmente eu**

domingo, fevereiro 04, 2007

Vai

Tu és tudo o que não sou
Tu és capaz de me completar
Sem ti, sou o que podem chamar de
Incompleto

Por dentre as palmeiras
Sou capaz de enxergar as estrelas
Não há nada
Que possa fazer as ondas do mar
Pararem de jorrar suas intolerantes ondas na areia

Todo irregular esse céu
Eu já saí daqui
E tu foste recusado
Onde os pés são atravessáveis
Com seus majestosos gestos duros

Tu sabes que as palavras aqui são para ti,
E para apenas ti
Tu és o meu lado mau de ser.


Incontestavelmente eu**

terça-feira, janeiro 23, 2007

Planar

Quem disse que anjos não existem?
São eles os que mais te tocam
Os que mais te alcançam,
São eles, entre todos, os mais perceptíveis

Quem disse que anjos não existem?
Com certeza ainda não te conheceu,
Aquele sem sorte no caminho real da desventura
Pois nada é viver sem você

Quem disse que anjos não existem?
Descrente era eu
Ironia secular de uma presa fácil
Oh, proteja-me com sua alvura imaculada.


Incontestavelmente eu**

domingo, janeiro 07, 2007

Sexta-feira 13

Deixe eu te contar
Como choro todos os meus demônios:
Uma lágrima por vez,
E cada uma traça um caminho diferente na minha face
Mas não as seco
E sabes por quê?
Pois só assim me sinto humano.


Incontestavelmente eu**

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Impuro


Nome
Letras escritas sobre a pele
Sobre os lençóis,
São levados pelo cá vento do norte

Aqueles vestígios
Negros no fundo
Passos marcados por um tambor
Enquanto os pés descalços
A amparar,
O desiludido par de olhos
Felinos da criança

Vai fundo,
Mergulhe até
A negra escuridão
Consciência de pedra
Punhal no chão
Pega-o e corta
Você mesmo

Vem, reage!
Atue contra mim
E por conseqüência
Engole a bílis
Sente similar a minha dor.

Inconstestavelmente eu**