domingo, outubro 21, 2007

Chantagear o mundo


O meu perecer não faz mais parte da minha alma
Não vou mais me permitir almejar qualquer que seja o sonho
Dói demais vê-los todos quebrar e cair

Meus sonhos são meus versos

Não suporto mais vê-los largados nas sarjetas de tuas casas
Machuca saber que nunca serão sonhados por ninguém mais que eu

Meus sonhos não têm culpa de serem meus
Não tiveram escolha senão serem de mim
Por favor, não os menospreze apenas porque são simplórios, porque são poucos

Quero apenas pedir a tua atenção para os meus dedos,
Para poder ver como são nas suas pontas onde habitam as minhas palavras
Para compreender como as idéias se posicionam na minha mente

Não os julgue por serem meus,
Não me julgue pelos meus versos

Pisar sem calçados na neve, e andar sob as raízes invertidas de uma árvore
Caminhar assim é viver em mim todos os dias
Escutar as minhas palavras é estar comigo, é ser eu

Não quero que leias o que sou,
Quero só que não morra em mim o que sempre sonhei, o que sempre imaginei
Não quero ter que chorar as misérias do mundo, quero apenas fazer as minhas

Correr não é mais a solução, tornou-se o problema

Brincar sempre de negar é sempre mais fácil do que dizer “sim”
E é justamente o meu negar que toma forma e ocupa a sala inteira, a cidade inteira, o mundo inteiro,
O corpo inteiro

Quero que as minhas palavras cresçam o suficiente para me amare e me abraçarem um dia
Quero que os meus sonhos sejam grandes o suficiente para cobrirem as minhas infelicidades e transformá-las em um manto qualquer

Preciso parar de querer, preciso passar a fazer

Nunca soube rimar meus sonhos, mas sempre soube sonhar
Minha mãe querida jamais me ensinou a brincar, a ser, a amar
Já meu pai... meu pai também nunca me ensinou a viver

Talvez precise pensar mais sobre as minhas frases,
Talvez deva me dedicar mais a elas, a todas elas
Quem sabe assim serão melhores aceitas por ti

Teus restos não são melhores do que nada que já foi meu

Minhas mãos já não andam sozinhas,
Minhas primaveras não são mais as mesmas,
Muito menos eu sou o mesmo

Quero apenas que meus cabelos fiquem brancos,
Que meus fios se soltem de minha cabeça,
Que eles dancem por todas as cidades,
Que beijem todos os lábios daqueles que sabem o que é sonhar

Vou lançar agora a minha sorte ao vento
Vou fazer com que ele eternize meus sonhos,
Com que meus versos sejam ditos por mais alguém,
Que sejam amados por outro assim como eu os amei

Eles serão um dia o marco de toda a História
Não deprecie minha capacidade,
Minhas idéias são muito maiores do que as tuas.


Incontestavelmente eu**

Dissonar


Hoje aprendi sobre a palavra carne
Aprendi que se pode rimá-la com sono
E a partir de então, permite-me rimá-la com o mundo inteiro

Rimei com a primavera, com as ruas e com os quartos
Usei as alianças dos casais como suporte dos primeiros versos
E terminei-os com todo o esmero de todos os livros já escritos

Foi quando cheguei até você,
Por algum motivo maior, a rima parou, estancou e não quis mais andar
A minha carne rimou com tudo e todos, mas a você ela não desejou

Não compreendi direito o porquê, e então insisti em fazer a rima dar certo
Mas nada aconteceu, ficou ali estático o seu nome perto da minha carne

Foi daí que terminei com esses pobres versos,
Foi quando tentei fazer você ficar perto de mim

São assim bem simples, assim como é minha afeição por você
Não se explica com fundamentalismos filosóficos, mas sim pelo tato
É tangível ao toque o quanto quero a você

Acho eu, que cansei de tentar fazer as coisas se encaixarem
Se fosse para a rima dar certo,
Ela já estaria a me esperar para ser feita

Voltei para os meus miseráveis poemas
Para me deparar com todos os meus mais belos versos,
Com o seu verso jogado ao léu do meu calor

E depois de caminhar por todas as vias sem fim da minha insanidade
Cabe a ninguém mais do que eu deixar as palavras como estão e não mais almejar coisa alguma

Vou deixar para os meus outros poemas terminarem o que eu comecei
Assim tão invariavelmente sem pensar, sem prezar, sem amar.


Incontestavelmente eu**