quarta-feira, janeiro 30, 2008

Crônica do Príncipe Encantado


Você, mulher independente, com uma carreira de sucesso, com um lindo apartamento com uma vista ainda mais fabulosa do que o seu guarda-roupa. Você pode ser chamada de mulher que “have it all”. Existe um porém, que é capaz de tirar o seu sono: você está solteira. Os seus questionamentos são capazes até de concluir que você não é bonita o suficiente, que talvez devesse ser mais submissa, que você deveria se dedicar menos ao trabalho que tanto ama.
Os homens são capazes sim de fazer questionarmos sobre tudo aquilo que somos confiantes e temos como certezas absolutas em nossas vidas. Alguns meses sem um namorado pode ser algo incrivelmente desesperador para mulheres que estão na casa dos 30 anos. As buscas vazias em novos bares da cidade, exposições de arte ou até mesmo amigos dos amigos passam a ser fonte alternativa mais recorrente para muitas mulheres. Tudo para tentar encontrar algum homem que possa ser um pretendente.
Porém, o que você menos esperava aconteceu. Você, caminhando bela e lindamente pela Oscar Freire com sua bolsa Chanel, seus sapatos Manolo Blahnik e seu óculos Christian Dior tropeça em algum imbecil que não olha por onde anda. Você praticamente é atirada ao chão e quando finalmente consegue se recompor para dar o maior esporro no infeliz, você vê o rosto angelical do rapaz. Ele é lindo, tudo aquilo que você imaginou ser a perfeição e além de tudo, o seu sorriso de “me perdoe” é irresistível demais para você recusar suas desculpas, ou um convite para um café.
Após algumas semanas e alguns drinques, vocês percebem que são perfeitos juntos. As risadas são presentes, assim como os olhares cheios de desejo também. Não demora muito para os dois estarem juntos em todos os lugares mais badalados, festas e é claro, no seu apartamento também. Ele cozinha para você, te mima, te trata super bem e é um amor com as suas amigas. Ele não é fofinho?
Sua vida está então completa: trabalho, amigos e agora, o coração também está apaziguado. Tudo está um mar de rosas, até mesmo quando o seu chefe briga (e feio) com você, você não vê problema nisso, ele está apenas nervoso com toda a responsabilidade, você entende o lado dele. Até que, quando você está se preparando para sair com o bofe, ele toca a campainha e você diz para ele subir. Ele a observa enquanto você coloca os brincos e penteia os cabelos, até que ele solta a bomba: “Querida... acho que talvez seja melhor darmos um tempo.”. Você vira-se para ele com uma cara que se quer sabia que podia fazer e entra em colapso nervoso. Você chora, se esperneia, abraça-o e joga coisas contra ele. No final de horas de conversa e garrafas de vinho, você está calma o suficiente (apenas o suficiente) para entender os motivos dele, afinal, é essencial que ele viaje para Madri para expor suas peças e buscar algum renome. Vocês se abraçam e você assiste pela sua janela o seu príncipe encantado (e seu potencial marido) ir embora e te abandonar.
Por mais triste que pareça, essa história irá se repetir várias e várias vezes com muitas mulheres. Todas nós temos uma vez na vida um lindo homem, a perfeição masculina se quiser chamá-lo, que nos faz feliz durante alguns poucos meses e depois nos abandona. E então, o problema é com nós mesmas ou com as beldades? Seria mais sensato dizer que o problema é com o deus grego, afinal, é ele que fica mudando de mulher, e não nós, mulheres lindas e bem-sucedidas, belos partidos. Só que o porém da história é: o problema não é de ninguém. Esses poucos homens transitam entre relações para que todas as mulheres conheçam esse tipo pelo menos uma vez na vida, e cabe a nós deixarmos eles irem para dar alegria a outras moças assim como você a viveu.
É inevitável então, acharmos que estamos perdidas e que nunca mais teremos uma relação como essa, e sinto em dizer, mas são poucas as sortudas que conhecem essa alegria mais de uma vez na vida. Então, nos enchemos de esperança para que possamos seguir e não sermos demitidas do nosso trabalho fabuloso por causa da depressão leve que adquirimos no final de cada relação.
Depois de alguma reflexão, cheguei à conclusão de que esses príncipes são andarilhos que dão alguma alegria para mulheres levemente desesperadas, e por isso não os condeno, muito menos aquele que me deixou semana passada. Nos resta então, apenas os meros mortais para serem nossos maridos, pais dos nossos filhos. Mas eu chego então, em uma encruzilhada onde sou obrigada a dizer que, esses humanos, justamente por serem humanos, são repletos de defeitos.
É comum escutarmos que devemos amar as pessoas pelos seus defeitos, e não pelas suas qualidades, mas não dá para amar um homem porque ele é infiel! “Olha só que fofinho! Ele me traiu mais uma vez! Ai, eu amo tanto ele por isso...”. De acordo com a minha pesquisa mais recente (escutar sem querer a conversa de algumas pessoas que falam alto demais e que estão perto demais), é quase unânime a porcentagem de maridos que mantém amantes. Pelo visto então, é a nossa sina sermos traídas por homens que nem são assim tão heróicos. Os homens que me perdoem, mas é verdade que vocês são, em sua maioria, condicionados a trair e serem infiéis (arrisco a dizer que são fiéis apenas a eles próprios). Não estou aqui para levantar nenhuma bandeira pró-feminismo, mas acho que vale dizer para todas as mulheres para se valorizarem, para não se humilharem, para serem mais fiéis a si próprias. Vale ainda dizer que existem sim homens honestos nesse mundo (sim, no nosso mundo), e que talvez sejam eles os que nos dêem esperança para seguirmos em frente e acreditar ainda no amor em relações monogâmicas.
Enquanto isso, cabe a você mulher linda e poderosa, esperar por algum outro encontrão ou então correr atrás da felicidade, mas com cuidado por favor, ninguém quer estragar nossos lindíssimos Blahniks!
Incontestavelmente eu**

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Irreparável


Mas é simples assim, é raro assim algo como isso acontecer. Não posso deixar de evidenciar que amo mais do que qualquer coisa a minha própria dignidade, a minha alma. Vale ressaltar que não deixo de fora o meu coração, que não descarto e ignoro todos os meus instintos.
Talvez transitar entre as minhas duas personalidades, cambalear entre o meu lado mau e o bom de ser, cause-me assim tanta dor, mas assim tanta satisfação no final de tudo. O que me dilacera por dentro, o que me corrói por entre as vísceras é meramente o que me faz continuar: a cabeça empalhada na minha parede, a urgir de dor, a gritar por um sopro de ar. Enquanto isso, assisto o meu prêmio na minha parede.
Essa satisfação é o que completa o meu lado humanitário e gentil. Agora, quando estou só com minhas presas, é quando se pode facilmente ver o que realmente sou.
Sou assim essa besta que não preza por nada, que é cega e que enxerga apenas no escuro, no breu, no fel. Rezar não me ajuda mais, não me consola. Sou o único irreparável da Terra. Sou o anjo caído. Sou o demônio de cada um.
Quando me foi rejeitado o mais belo florescer das auroras e as pétalas mais leves dos horizontes, não fui chorar mágoas nem arrependimentos. Fui logo contar as minhas vitórias, que passariam então a ser sobre as suas conquistas. A cada dia que passa, você morre um pouquinho mais, e eu cresço cada vez mais soberbo e egocêntrico. Não me julga mal ao pensar que sou o apocalipse do mundo, pois na verdade, sou a sua salvação, eu sou a sua prece por vida.
Nasce de mim o raio de sol que ilumina você, que ilumina essa terra que há Deus que olhar. Mora em mim as angústias, os medos, as maiores agonias que qualquer um já teve. Eu sou o resumo de todo o Homem, sou a mais bela e perfeita forma de ser. Eu sou a tua morte, sou o teu fim. Deita cá no meu colo e deixa eu te ninar.
Quando você largar a luta, quando cair sobre os joelhos, os pulsos e cortar os dedos com as suas próprias adagas, eu vou cuidar de você. Vou estancar os sangramentos, vou fazer a dor passar. Você vai chorar no meu colo, implorar por piedade e lá vou eu mais uma vez te consumir os pensamentos. Deixa-me chegar mais perto só para te sussurrar todos os projéteis que já me cortaram a testa. Você vai chorar pela minha dor, mas não vai ser o bastante, nunca é.



Incontestavelmente eu**